Finalmente, estamos postando a lista de indicações reais e fictícias de cesárea, elaboradas pela Dra. Melania Amorim de acordo com as evidências científicas mais atualizadas. Segue:
INDICAÇÕES REAIS E “FICTÍCIAS” PARA A CESÁREA
Algumas indicações de cesariana
REAIS
1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto.
PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA
1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a gravidez);
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora", exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal);
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a linha de ação do partograma.
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO
1) Apresentação pélvica;
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – em torno de 1% - deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia);
2) HIV-AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos.
Algumas desculpas frequentemente utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea
1. Circular de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso)
2. Pressão alta
3. Pressão baixa
4. Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto
5. Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter entrado em trabalho de parto
6. Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe)
7. “Passou do tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas)
8. Trabalho de parto prematuro
9. Grumos no líquido amniótico
10. Hemorroidas
11. HPV (só há indicação de cesárea se há grandes condilomas obstruindo o canal de parto)
12. Placenta grau III
13. Qualquer grau de placenta
14. Incisura nas artérias uterinas (aliás, pra que doppler em uma gravidez normal?)
15. Aceleração dos batimentos fetais
16. Cálculo renal
17. Dorso à direita
18. Baixa estatura materna
19. Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso
20. Obesidade materna
21. Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come)
22. Bebê “grande demais” (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal).
23. Bebê “pequeno demais”
24. Cesárea anterior
25. Plaquetas baixas
26. Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma
27. Problemas oftalmológicos, incluindo miopia e descolamento da retina
28. Edema de membros inferiores/edema generalizado
29. “Falta de dilatação” antes do trabalho de parto
30. Gravidez superdesejada (motivo pelo qual os bebês de proveta aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal)
31. Gravidez não desejada
32. Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos)
33. Adolescência
34. Prolapso de valva mitral
35. Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal)
36. Diabetes
37. Bacia “muito estreita”
38. Mioma uterino
39. Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia)
40. “Pouco líquido”
41. Artéria umbilical única
42. Ameaça de chuva/temporal na cidade
43. Obstetra (famoso) não sai de casa à noite devido aos riscos da violência urbana
44. Fratura de cóccix em algum momento da vida
45. Conização prévia do colo uterino
46. Eletrocauterização prévia do colo uterino
47. Varizes na vulva e/ou vagina
48. Constipação (prisão de ventre)
49. Excesso de líquido amniótico
50. Anemia
51. Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas
52. Trombofilia
53. História de trombose venosa profunda
54. Bebê profundamente encaixado
55. Bebê não encaixado antes do início do trabalho de parto
Etc. etc. etc...
Melania Amorim
Nem mais o que achar. Minha médica e suuuper a favor do parto normal e desde quando eu descobri que tava grávida ela já me preparava pra isso, eu quera meio frouxa mesmo. Quando já estávamos na semana da previsão do parto, ela me mandou fazer uma cesária por que meu filho não estava encaixado e quase não seguimos ouvir o coração dele. Quando ela me "abriu", constatou que ele realmente não nasceria de um parto normal, pois não estava na posição certa, segundo ela.
ResponderExcluirSerá que ela estava certa?
Ada, não sou profissional de saúde, mas acho que qualquer obstetra, enfermeira ou parteira se furtaria de lhe dar uma resposta destas, sem saber exatamente o que houve, sem ter acompanhado o teu caso.
ResponderExcluirComo antropóloga voltada para um estudo com relatos de parto, o que posso te dizer é que o número de mulheres que são atendidas por médicos que dizem ser favoráveis ao parto normal, mas que fazem cesáreas desnecesáreas, é muito grande. Também que a maioria destas "desnecesáreas" são justificadas depois da cirurgia feita. Os motivos podem ser diversos, eu diria que da "má fé" ao fato de não estarem comprometidos com práticas médicas embasadas em evidências científicas. Mas este não é um diagnóstico do "teu caso", nem da "tua médica", já que para isto não tenho competência.
Também tenho percebido que a dúvida sobre ter sido submetida a uma cesárea necessária ou não é fator de muita apreensão por parte das mulheres, então, num caso futuro, quem sabe você procura por outras opiniões antes de se submeter a um procedimento tão complexo, como é a cesárea?
Tudo de bom,
Elaine.