domingo, 6 de abril de 2014

Narrativas do Nascer organiza Jornada de Enfrentamento à Violência Obstétrica, na Semana Nacional de Humanização

O Ministério da Saúde promoverá, de 07 a 11 de abril de 2014, a Semana Nacional de Humanização – HumanizaSUS. Com o intuito de promover a humanização no Sistema Único de Saúde, a iniciativa pretende impulsionar os Estados e Municípios para que promovam atividades de reflexão sobre a prática e assistência de saúde oferecidas no país.
Em Recife e região teremos a participação de várias instituições que trabalham preocupadas com a realidade da atenção obstétrica brasileira e em prol de ações contra a violência obstétrica. Violência que precisa ser desvelada e refletida entre profissionais, instituições que oferecem serviços de saúde, mulheres e sociedade civil.

A Fundação Perseu Abramo, em 2010, revelou que 25% das mulheres brasileiras sofreram violência durante o parto, a chamada violência obstétrica. Entretanto, o fato das rotinas obstétricas / intervenções desnecessárias terem se naturalizado na assistência ao parto e nascimento, muitas mulheres acabam por experienciar partos insatisfatórios e traumáticos, e o tomam como referência negativa; não relacionando o fato da má experiência ao atendimento violento. O debate sobre Violência Obstétrica é, sobretudo, um debate sobre violência de gênero e sobre direitos reprodutivos da mulher. E para que se consiga combater uma opressão é preciso primeiro visibilizá-la.

Desta forma, torna-se imprescindível dar visibilidade ao tema seja entre as mulheres, seja entre os profissionais, com o intuito de sensibilizar para a transformação das práticas obstétricas. Por parte das mulheres, isto possibilitará a busca por seus direitos. Por parte do sistema de saúde, pode ser uma das principais formas para se alcançar as recomendações da Organização Mundial de Saúde na assistência ao parto, que preza pela humanização e cuidado baseado em evidências científicas com uso restrito e moderado de intervenções. 

Assim, o Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer/DAM/UFPE, em conjunto com outras instituições, propõe para a semana de 07 a 11 de abril, uma Jornada de Enfrentamento da Violência Obstétrica, que contará com mesas redondas, debates, exibição do filme “O Renascimento do Parto”, oficinas de sensibilização dentro de hospitais, entre outros.
Nas atividades serão abordados principalmente questões relativas à Recife e região quanto a violência obstétrica na assistência vigente, como os itens que seguem abaixo; direitos das mulheres no parto e quais os caminhos a serem percorridos para a transformação desta prática.
Procedimentos violentos:
- Cesáreas feitas sem justificativa médica plausível (Em Recife chega a 97% de cesarianas no serviço privado e no Brasil em geral a 53%, sendo a recomendação da OMS de até 15% de cesáreas).
- Intervenções (como uso de soro com ocitocina, episiotomia, empurrões na barriga, restrição de liberdade de posições e movimentos etc.) feitas durante o parto sem justificativa e/ou consentimento da mulher.
- Mulheres em trabalho de parto que não conseguem ser internadas em maternidades porque precisavam ter feito agendamento.
- Tratamento desrespeitoso (tais como frases humilhantes, negligência, etc.)
- Restrição da entrada de ao menos um acompanhante da escolha da mulher durante qualquer momento do trabalho de parto, parto e pós-parto no hospital, o que está contemplado em lei.
- Dentre outros.

Entre as instituições parceiras temos:  FENSG/UPE, Estácio, IMIP, MPPE, Grupo Cefapp, IDE, UFPE Vitória de Santo Antão e TVU/UFPE.
Abaixo, a programação para a semana. 

Algumas das atividades são abertas ao público em geral e outras restritas às instituições. As informações podem ser conseguidas diretamente com os organizadores de cada ação.


CONTATOS:

CEFAPP
Rua Major Codeceira, 189. Recife
selmocunha@grupocefapp.com.br
08198071775

Narrativas do Nascer / UFPE
narrativasdonascer@gmail.com

Programa Realidades
Marcelo Pelizolli 
opelicano@gmail.com
Vitor
vitorpj@live.com

Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão
Rua Alto do Reservatólrio S/N- Bela Vista- Vitória de Santo Antão
Zailde Carvalho dos Santos
zailde2013@gmail.com

Grupo Boa Hora
Espaço Luminaris
Rua Silveira Lobo, 107. Recife.
dan@institutonomades.org.br
mariana@institutonomades.org.br

Acadêmicos de enfermagem - Estácio
Av. Engenheiro Abdias de Carvalho, Nº 1678
3226-8800

ABENFO
Cinthia Martins (EO)
Kéllida  Feitosa
kel_feitosa@yahoo.com.br
Rachel Caroline
rachelcaroline@hotmail.com
Danyelle Rodrigues
danyellerparaujo@yahoo.com.br

UPE FENSG
Rua Arnóbio Marques, 310, Santo Amaro
Camila Jordão (aluna UPE Enfermagem)
camillajordao@hotmail.com
Alexandra Nascimento  (alexsandraupe@gmail.com)

IDE
Gilmar Júnior - coordenacaoenfermagemide@gmail.com

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O renascimento do parto - o filme

O documentário “O Renascimento do Parto” chega ao Recife e movimenta as discussões sobre atendimento obstétrico no Brasil, propondo uma reflexão sobre o parto normal, cesárea e nascimento humanizado
Até o nosso blog renasceu junto!

O filme, de Eduardo Chauvet e Érica de Paula, questiona o modelo obstétrico atual e denuncia os mitos que balizam a prática excessiva de cesarianas e outras intervenções durante o parto que não têm sustentação científica. O longa estará em cartaz até o dia 05 de setembro, sempre em sessão única às 19h10.
Nos dias 30 e 31 de agosto, após a exibição do filme, haverá rodas de diálogos sobre a realidade da assistência obstétrica no Recife e com depoimentos de famílias que vivenciaram partos respeitosos. 
Os debates serão promovidos pelo Instituto Nômades, Ishtar - Espaço para Gestantes e o Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer/UFPE, com apoio do Maternaço e Mãe Nutriz.
Programação dos Debates:
Sexta (30.08) - Roda de conversas com depoimentos de famílias que vivenciaram partos respeitosos no Recife
Sábado (31.08) - Debate: Caminhos possíveis para um parto ativo - a realidade da assistência obstétrica no Recife
Local:  Sweets Café (Shopping Rio Mar), das  20h45 às 22h
Outras informações sobre o filme, acesse: www.orenascimentodoparto.com.br

SERVIÇO: Exibição do documentário “O Renascimento do Parto”
Data: De 30 de agosto a 05 de setembro
Onde: Cinemark (Shopping Rio Mar)
Hora: Sessões únicas as 19h10

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Campanha: Parto não combina com violência.

Como dissemos no post anterior, estamos em plena campanha pelo direito a um parto respeitoso para todas as mulheres. Divulgamos várias ações neste sentido, quero agora reforçar nossa coleta de denúncias de casos de violência obstétrica no Recife.
Já falamos de alguns exemplos, então vou agora me deter a alguns detalhes para pensarmos a respeito.

Deixando de lado todo tipo de questão que vá além das constatações clínicas, o pré-natal se transformou hoje na prescrição e leitura de exames, pesagem e aferição da pressão arterial da gestante. "Dr., vamos conversar sobre o parto? Deixe comigo, minha filha, se preocupe com o enxoval...". Não se fala sobre o parto, não se fala sobre o trabalho de parto - seus indícios, suas fases, sua fisiologia. Algo que me chama a atenção é o número de mulheres que, ao começarem a sentir contrações, vão para a internet postar perguntas nas redes sociais: "Será que chegou a hora? E agora?". Esta realidade é bastante diferente do tempo de nossas avós, quando, de uma maneira ou de outra, as mulheres presenciavam em suas casas o nascimento de muitos bebês. Hoje, a mulher que quiser ter acesso à informação, muito provavelmente terá que procurá-la por conta própria, em grupos de apoio ao parto normal, presenciais ou virtuais.
Desinformada e insegura com relação ao que acontece em seu corpo no momento do parto e no puerpério, a mulher fica diante de um engodo de escolha. Ou é cortada por baixo (o parto normal repleto de intervenções, com a episiotomia como seu símbolo maior), ou é cortada por cima (e se submete a uma cesárea que supostamente a livraria de todo o sofrimento de um parto normal "medieval".

Há quem diga que a causa das altas taxas de cesáreas é que as mulheres de hoje não querem mais ter um parto normal. Certamente, a maneira como nossa sociedade lida com a dor (anestesiando-a, sempre), é diversa de como era em outros tempos. Mas ficar neste plano é ser, no mínimo simplista.
Algumas pesquisas têm apontado para a preferência da mulher, a princípio, pelo parto normal, e como esta vontade é desencorajada ou desrespeitada por seus médicos.

http://www.bemparana.com.br/noticia/57995/mulheres-preferem-parto-normal-mas-acabam-fazendo-cesariana
http://www.aleitamento.com/humanizacao-parto/conteudo.asp?cod=695
http://www.istoe.com.br/reportagens/detalhePrint.htm?idReportagem=25434&txPrint=completo

Há mulheres, também, que ao engravidarem não têm uma preferência clara pela via de parto, ou que até concordam com os benefícios do parto normal, mas que em suas trajetórias de vida tiveram contato com inúmeros relatos de atendimentos desastrosos a mulheres próximas. Acontece que, como eu disse acima, o tipo de atendimento pré-natal que a maioria de nós tem acesso de forma alguma trabalha com estas questões.

A banalização da cesárea eletiva é tamanha na atualidade, que chegamos aos absurdos 97,3% de cesáreas em um hospital da rede privada do Recife no ano de 2010 (e eu soube de um dado ainda não confirmado de que outra maternidade teria tido, em 2011, 100% de cesáreas!).



Estas cesáreas feitas sem justificativa médica plausível, como é o caso da maioria delas, já que a OMS recomenda um percentual máximo de 15%, além de colocarem mulheres e bebês em risco maior, trazem problemas para as mulheres que desejam um parto normal. Não é exagero dizer que um dos maiores medos das mulheres grávidas que desejam parir em hospitais privados é entrar em trabalho de parto e não conseguir vaga nos hospitais. A peregrinação das mulheres em trabalho de parto é, assim, colocada para as mulheres de classe média, assim como para as usuárias do SUS - que frequentemente são encaminhadas para maternidades em outras cidades da região metropolitana, dificultando o acesso dos acompanhantes e visitantes durante a internação.

A mão e o poder do médico obstetra não se limitam, contudo, à prática da cesárea mal recomendada. A despeito da etimologia da palavra obstetrícia, obstare: estar ao lado, parece que há uma grande dificuldade por parte dos profissionais que assistem partos em permanecer neste plano, o da assistência. Isto não seria pouco, é o que toda mulher realmente precisa, de alguém que lhe ofereça a segurança de saber que, se houver necessidade de uma intervenção, há um profissional ali lhe dando a atenção necessária. O que acontece, pelo contrário, é o abuso de intervenções mal indicadas, mal conduzidas, sem informação ou consentimento das mulheres. Faz-se o que se acredita que precisa ser feito, em todas as mulheres - a internação precoce, a administração de ocitocina sintética, a analgesia, a episiotomia, etc. etc.
As intervenções desnecessárias começam no pré-natal, na solicitação de exames que vão além das necessidades da maioria das mulheres, gestantes de baixo risco, e se estendem até os primeiros cuidados com o bebê, com as aspirações, lavagens, colírio...

http://ishtarsorocaba.blogspot.com.br/2012/05/as-50-intervencoes-desnecessarias.html?spref=fb

A questão dos acompanhantes também merece registro. A Lei Federal determina que o acompanhante deverá ser escolhido pela mulher, mas as instituições públicas insistem em restringir a entrada de homens, alegando falta de estrutura (enquanto o Ministério da Saúde diz que há recursos para os hospitais públicos se reestruturarem, mas que eles não encaminham os projetos). Ouvi uma vez a fala de uma representantes de uma maternidade municipal de Recife sobre o “grande problema” que é quando um homem “resolve” ver o parto de sua companheira, porque é preciso acionar os psicólogos, conseguir um laudo psiquiátrico para atestar que ele tem condições de estar presente sem incomodar. Fala dita numa audiência pública sobre a Lei do Acompanhante, no MP-PE! Em alguns lugares, restringe-se a entrada de qualquer acompanhante, independentemente de sexo. E na rede privada, continua a cobrança de taxas já proibidas, que são cobradas em espécie e antecipadamente. Em todos os hospitais, dependendo do médico que atende o parto, a mulher precisa escolher entre a companhia do companheiro ou da doula (que muitos médicos consideram como sendo um empecilho para sua boa prática intervencionista). Claramente, não há o entendimento de que a presença do acompanhante de livre escolha da mulher no momento de seu parto é positiva, saudável e deva ser estimulada.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11108.htm

http://www.saudebrasilnet.com.br/Direitos/taxa-para-acompanhante-de-parto-fica-proibida.html

Tudo se complica e o caos se completa quando, em meio a todo este atendimento de péssima qualidade, a mulher é literalmente ofendida, mal tratada, negligenciada. Uma pesquisa aponta para um percentual de 25% das mulheres se dizendo vítima de maus tratos durante seus partos. Um quarto das mulheres que participaram desta entrevista, diz ter ouvido frases humilhantes dos profissionais que deveriam estar lá para atendê-las com dignidade. Quem nunca ouviu uma história com um "não grita, se não teu bebe vai ficar surdo", "pra fazer, não reclamou", "se entrou tem que sair", ou os mais sutis, "vai, filha, foça, agora, assim não, tá fazendo errado, não tá ajudando".
Este percentual seria ainda maior se considerássemos toda intervenção feita de maneira abusiva e sem o consentimento da mulher como sendo também um dos maus tratos possíveis.

Por tudo isto, dizemos: PARTO NAO COMBINA COM VIOLÊNCIA. PARTO COMBINA COM RESPEITO.

Denuncie os casos de violência obstétrica e institucional ao qual você, sua irmã, sua companheira, sua filha, sua amiga... foi submetida! Estamos aqui para ajudar neste processo. Você sabia que o Ministério da Saúde não dispõe de nenhum serviço com esta finalidade? Que a violência contra a mulher, para o Governo Brasileiro, a despeito de todas as regulamentações e recomendações para um parto seguro, e da política de humanização do parto, parece estar preparado apenas para receber as denuncias de violência doméstica?
Vamos fazer acontecer esta demanda, levando casos concretos aos Ministérios Públicos Estaduais e Federal, e fazendo com que estes, e também os Censelhos de Medicina, se posicionem a favor de um atendimento mais respeitoso ao parto no Brasil.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Repensando a atenção obstétrica no Recife

Marcando o Dia Mundial de Ação pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Combate à Mortalidade Materna, 28 de maio, o Grupo Curumim, o Instituto Nômades, o Ishtar - Espaço para Gestantes, a Maternar e o Grupo Narrativas do Nascer/UFPE estão promovendo uma série de ações para chamar a atenção da população para as diversas situações de violência obstétrica que têm sido vivenciadas por mulheres em Pernambuco, e gostaríamos de poder contar com a participação do maior número possível de pessoas para dar força ao movimento.



Na quarta-feira, dia 23, teremos, no âmbito do 38º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia, o debate "Modelo de Atenção Obstétrica no Recife: Identificando problemas e encontrando soluções". Todos são bem vindos para este evento: usuárias do sistema de saúde (público e privado), profissionais, ONGs, representantes do poder público, representantes das maternidades do Grande Recife, e todas as pessoas interessadas. Durante o evento estaremos também coletando denúncias de situações de violência obstétrica vivenciadas por mulheres em seus partos.



Na segunda-feira, dia 28, pela manhã, entregaremos ao Ministério Público Federal as denúncias de violência obstétrica coletadas. À tarde, durante o evento "Entre as Orelhas: O parto como evento integrativo", que acontecerá na UFPE, faremos o lançamento de uma campanha contra a violência obstétrica.



Até sábado, dia 26, estamos coletando denúncias de situações de violência obstétrica vividas durante o parto. Quem não conseguir levar sua denúncia ao evento da quarta-feira pode enviar por email para: boahora@institutonomades.org.br. Nas denúncias deve constar o fato ocorrido, nome da maternidade, data e hora da ocorrência. Exemplos de violência obstétrica:

- Cesáreas feitas sem justificativa médica plausível

- Intervenções (como uso de soro com ocitocina, episiotomia, empurrões na barriga, restrição de liberdade de posições e movimentos etc.) feitas durante o parto sem justificativa e/ou consentimento da mulher

- Mulheres em trabalho de parto que não conseguiram ser internadas na maternidade porque precisavam ter feito agendamento
- Tratamento desrespeitoso (tais como frases humilhantes, negligência, etc.)

- Restrição da entrada de ao menos um acompanhante da escolha da mulher durante qualquer momento do trabalho de parto, parto e pós-parto no hospital

- Dentre outros.

Contamos com a participação de vocês! Vamos nos mobilizar para transformar a assistência ao parto no Recife!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

2012, aqui estamos nós

Nosso projeto cada dia tem mais cara de grupo de pesquisa e extensão. Estamos ainda digerindo tanta informação com as quais tivemos contato no ano passado, pensando no planjemanto para este ano, nossas metas.
Vamos dar uma pausa nas Rodas de Diálogo. Estamos pensando em fazer apenas uma ou duas neste semestre e dar mais ênfase à pesquisa. Queremos entrevistar mulheres com experiências diversas de parto e cesárea, e profissionais que atendem parto e nascimento.
Também queremos bolar um tratamento adequado para este acervo de relatos de parto que estamos coletando. Nos nossos planos temos uma publicação e um projeto de "museu" (entre aspas, porque este formato ainda está por ser definido).
Ficamos muito, muito felizes por sabermos que o projeto teve impacto na vida de algumas pessoas que (re)pensaram o nascimento de seus filhos. E continuamos acreditando que é o contato com a diversidade de experiências e de informações que nos permitirão escolhas mais conscientes e empoderadas!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Intervenções de rotina com o recém-nascido

Estamos trazendo mais informações sobre o tema de nossa V Roda de Diálogos (Como seu bebê será recepcionado no parto?), que faremos no próximo sábado, às 12:30, na Livraria Cultura. É um texto de Dan Gayoso, coordenadora do Grupo Boa Hora, do Instituto Nômades. Aproveitem a leitura e reflitam sobre como querem que seus bebês sejam recebidos nos primeiros momentos de vida.


Principais procedimentos comumente feitos com o bebê em suas primeiras horas de vida no parto hospitalar:

1. Corte precoce do cordão umbilical (assim que o bebê nasce): Pelas evidências científicas disponíveis, não é recomendado cortar o cordão umbilical antes que o mesmo pare de pulsar, pois esse procedimento aumenta a incidência de anemia na infância. É possível também aguardar a expulsão da placenta antes do clampeamento do cordão umbilical. Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u501567.shtml.

2. Aspiração das vias aéreas e gástricas do bebê e lavagem gástrica: Esses procedimentos podem ser prejudiciais ao bebê quando feitos de rotina, de acordo com as evidências científicas. A grande maioria dos bebês, mesmo os nascidos de cesárea, não precisam ser aspirados. Segundo o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, a aspiração "pode levar a diminuição de frequência cardíaca, espasmos de laringe, queda da pressão arterial e dificuldade de mamar nos bebês". Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd0708200902.htm.

3. Sondagem anal: É comum introduzir uma sonda no ânus do bebê para verificar se a passagem está desobstruída. Uma alternativa seria aguardar ao menos 24 horas para ver se o bebê faz cocô.

4. Instilação de colírio com nitrato de prata nos olhos do bebê (método de credé): Procedimento feito para prevenir um tipo grave de conjuntivite que pode levar à cegueira. Porém, o nitrato de prata previne apenas um tipo de conjuntivite, que é provocado pela bactéria que provoca gonorréia (Neisseria gonorrhoeae). Se a mulher fez os exames pré-natais e sabe que não é portadora dessa bactéria, não há justificativa para a aplicação do colírio. O colírio arde no olho do bebê, atrapalha a sua visão e interfere na formação do vínculo entre mãe e bebê. Além disso, o uso do colírio pode acarretar numa conjuntivite química (cerca de 20% dos bebês em que foi feito uso do nitrato de prata desenvolvem conjuntivite química). Leia mais: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/assistenciafarmaceutica/clin-alert0301.pdf.

5. Aplicação de injeção intramuscular de vitamina K: Procedimento feito para prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido. Há também a versão oral da vitamina, que deve ser aplicada em três doses. Vale a pena se informar sobre a vitamina K para uma decisão mais consciente em relação ao seu uso. Leia mais: Artigo comparando a vitamina K injetável com a oral: http://parir.blogspot.com/2006/11/uso-da-vitamina-k-no-perodo-neonatal.html. Artigo que questiona a necessidade do uso da vitamina K nos bebês (em inglês): Vitamin K - An Alternative Perspective - disponível no site: http://www.aims.org.uk/.

6. Separação do bebê de sua mãe: Nos partos hospitalares, normalmente o neonatologista, após a realização dos procedimentos descritos acima, permite um breve contato do bebê com a mãe na sala de parto e o leva para o berçário, para que fique em "observação" entre 2 a 4 horas, em um berço aquecido. Esse procedimento não tem justificativa no caso de um bebê saudável, e é prejudicial para o estabelecimento do vínculo bebê-mãe (família) e para o início da amamentação.

7. Banho dado pela equipe de enfermagem: O primeiro banho é dado normalmente por uma enfermeira, que, com mãos enluvadas esfrega bem o bebê para retirar toda "sujeira" e entregá-lo "limpinho" à família. O bebê costuma nascer com algum vérnix no corpo (substância oleosa esbranquiçada que reveste a pele do bebê quando ele está no útero), o qual é totalmente absorvido nas primeiras horas de vida do bebê. A família pode escolher que o primeiro banho do bebê seja dado no momento que escolher, por alguém da própria família, que tocará no bebê com mãos sem luvas e com carinho.

8. Oferta de líquidos ao bebê: É comum que se dê ao bebê, no berçário e sem o consentimento ou conhecimento da família, mamadeira com soro glicosado ou leite modificado (Nan, Nestogeno ou similar), o que pode interferir na amamentação e predispor o bebê a alergias.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Como seu bebê será recepcionado no parto?


Corte prematuro do cordão umbilical, aspiração das vias respiratórias, amamentação na primeira hora de vida, aplicação de colíro de nitrato de prata, aplicação de vitamina K, vacinação nas primeiras 24 horas, alojamento conjunto, separação do bebê de sua mãe para banho de luz, berço aquecido...
São tantas as intervenções às quais um bebê pode ser submetido nas primeiras horas de vida, além das orientações para o estabelecimento de vínculo com sua família, que estas questões não podem deixar de serem pensadas por quem luta por experiências mais humanizadas no parto ou por quem se prepara para ter um filho.
Nesta última Roda de Diáloso do Narrativas do Nascer em 2011, iremos conversar sobre experiências bem variadas de nascimento.
É interesante percebermos que muitas mulheres podem parir naturalmente, e seus bebês terem nascimentos nada "naturais", com os primeiros momentos de vida cheios de intervenções desnecessárias.

Ainda traremos mais informações sobre o assunto durante esta semana. Por ora, deixamos um link de um texto sobre o tema, do site Amigas do Parto:
http://www.amigasdoparto.com.br/ac027.html

Como seu bebê será recepcionado no parto? - V Roda de Diálogos do Narrativas do Nascer

Realização: Narrativas do Nascer/DAM/UFPE e Instituto Nômades
Apoio: Livraria Cultura e Proext / UFPE
Local: Livraria Cultura Paço Alfândega – Recife
Data: 17 de dezembro | 12h30min
Mais informações:
narrativasdonascer@gmail.com | (81) 9728.5308 / 9973.8035